█████ ◌ ◌ ◌ ◌ Bataille e o rock [EC]
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Bataille e o rock
Nas entranhas do erotismo, desde as pulsões artísticas à sua representação literária, e ao ocultismo à la Maria de Naglowska, por exemplo, percorremos os prazeres corporais no encontro com sua dimensão mística, filosófica e dirá misteriosa. Desencontros costumam ser mais aceitos, no sentido de ciclo comum no cerco das jovens e velhas carcaças, dos corpos flamejantes e dos apagados; experientes ou não, segundo aponta justamente o “comum”. Cada sentido no seu galho particular, uma pluralidade de sujeitos, partes íntimas e movimentos, cuja história se completa e se desloca dentro de uma multiplicidade conduzida pela estética dos objetos. Sendo mais direto, essa é a abordagem da obra “A História do Olho” de Georges Bataille, publicada em 1928; referência magnânima de inspiração para a criação desse blog e do que se seguirá mais abaixo.
Bataille foi um escritor francês cuja complexidade da sua obra abrange várias áreas do pensamento e possui uma certa peculiaridade em relação a outros filósofos, por vezes, também é muito polêmica. O escritor é, no entanto, reconhecido primordialmente pela forma que tratou de temas como o erotismo, o sagrado, a transgressão e a ponte com o encontro da morte como chave para entender os regimentos humanos nos atos ao longo da vida dentro dessa relação. “O erotismo” de 1957 é talvez a sua obra mais conhecida por tocar no ponto focal de seus conceitos que já vinham sido desenvolvidos e serviram de base a outros posteriores.
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Stultifera Navis (2012)
Carvakas
Chile - Death Metal
Ouvir: Youtube
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"Do erotismo é possível dizer que ele é a aprovação da vida até na morte. Para falar a verdade, isto não é uma definição, mas eu penso que esta fórmula dá o sentido do erotismo melhor que uma outra. Se se tratasse de definição precisa, seria necessário partir certamente da atividade sexual de reprodução da qual o erotismo é uma forma particular. A atividade sexual de reprodução é comum aos animais sexuados e aos homens, mas, aparentemente, só os homens fizeram de sua atividade sexual uma atividade erótica, e o que diferencia o erotismo da atividade sexual simples é uma procura psicológica independente do fim natural encontrado na reprodução e na preocupação das crianças. Abandonando essa definição elementar, voltarei imediatamente à fórmula que propus inicialmente, segundo a qual o erotismo é a aprovação da vida até na morte. Com efeito, se bem que a atividade erótica seja inicialmente uma exuberância da vida, o objeto dessa procura psicológica, independente, como eu o disse, da preocupação de reprodução da vida, não é estranho à morte"(Trecho de "O Erotismo"; tradução de Antonio Carlos Viana)
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Type O Negative - Love You To Death (Letra)
Na casa dela cem velas queimando
Uma gota de suor escorre de seu peito
Os seus quadris se movem e eu posso sentir o que eles estão dizendo, mexendo
Eles dizem que a fera dentro de mim vai pegar você, pegar você, pegar...
Seu batom preto mancha sua taça de vinho tinto
Eu sou seu servo, posso acender o seu cigarro?
Seus labios suaves, é eu posso sentir o que eles estão dizendo, suplicando
Eles dizem que a fera dentro de mim vai pegar você, pegar você, pegar...
Eu imploro pra te servir, seu desejo é minha lei
Agora feche os olhos e me deixe amar você até a morte
Eu devo provar que eu quero dizer o que estou dizendo, implorando
Eu digo que a fera dentro de mim vai pegar você, pegar você, pegar..
Me deixe amar você também
Me deixe amar você até a morte
Ei, eu sou bom o suficiente pra você?
Ei, eu sou bom o suficiente pra você?
Eu sou? Eu sou? Ei, eu sou bom o suficiente pra você?
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A consciência da morte
Nuvens que se mantém no percurso, nos primórdios dos tempos humanos: neandertais e 'homo sapiens' no geral. Seres inacabados, nos primórdios entre a caça, a natureza e as bestas selvagens; estas, que dilaceram o alimento e representam o perigo grotesco e feroz — trava disputas com o animal que transforma a si e o espaço ao seu redor (ou vice-versa; mas sem ser literal) — no perigo e o dilema da sobrevivência que contrasta com o medo da 'figura' que esganiça como um demônio —, lida com o tormento da morte. Nas rígidas cavernas e na terra que engole o cadáver: crânios, ossos e carcaças sob a visão do homem do presente. Nos desenhos das cavernas: indícios da figura tida como o 'mau'; já nos corpos enterrados: o pensamento que assola e se relaciona com a morte dos nossos conterrâneos de milhares de anos atrás, isso é, a sensibilidade com o silêncio da morte. Entre pedras, na fuga do tempo que ameaça, moradia na caverna; os selvagens se relacionam e não saem mais dispersos (senso em relação à família), pois, a unidade é a consciência da morte, e a união é a morte da unidade dos indivíduos que desejam morrer. O que é essa morte almejada, no entanto? Sem resposta prévia, coloco a questão dos corpos como forma de discernimento e sua relação com o diabólico. Os corpos almejados e a carne exposta pela besta que o caçador teme, nos traz uma representação simbólica a respeito das pulsões sexuais e a imagem do sexo libertino como algo satânico (bestial) — a selvageria, a violência, a sodomia, o sagrado.
Nossos ancestrais viam os corpos alheios na leitura do prazer sem nenhum estudo, essa é inclusive uma factualidade que causa uma "meta-otalgia" que ecoa muito além da antropologia e da psique em si; faz-se necessário então lembrar das lágrimas que escorrem e sua relação com a violência: o gozo que espirra é nesse período interpretado como o inesperado, e a reprodução do coito ultrapassa as fronteiras da procriação com a união dos corpos através da violência do abraço, e da penetração que “almeja” o inesperado. Em vários momentos da história a sexualidade aparece de forma diferente e indiferente situada, já o erotismo aparece de forma extremamente desigual, pois, na mesopotâmia, por exemplo — a mulher era submissa ao homem e assim permeou por muito tempo; há de se ressaltar, no entanto, que em meio a essa sociedade patriarcal em que o sexo feminino era propriedade, o possível amante um ladrão e o ato de traição uma violação de quem a detém, havia também um misticismo latente em relação à deusa Ishtar, onde o rei deveria ter relações com alguma mulher que a simbolizasse. No Egito Antigo, apesar das liberações sexuais, da sensualidade póstuma, das poesias do corpo e das poucas restrições, ainda havia a punição ao adultério; já na Grécia clássica o sexo se encontrava mais liberto e com inclusive concessões ao amor homoafetivo, sendo os atos carnais dos gregos [à parte] ligados fortemente à personalidade de seus deuses. As prostitutas eram a representação de servas da deusa Afrodite e as mulheres casadas (normalmente mais jovens que os maridos) eram tidas pelos homens como insaciáveis. A Grécia era, pois — uma terra orgiástica aos homens e sexualmente engajada para as mulheres, que nessa época já se debruçavam com os consolos feitos a mão por “outrem” — uma referência cultural em todos esses aspectos que influenciaram profundamente a forma aberta a sexualidade posterior existente; como os romanos, por exemplo, que mesmo com um “A” de dominação e um forte teor moralista elitista (não que na Grécia também não fosse…) incorporavam e reivindicavam muitos aspectos mitológicos dos gregos clássicos e do período helenístico.
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A pequena morte
Uma das mais contundentes perguntas que assolam a humanidade enquanto indivíduo situado à nível geral ontológico em suas mais distintas formas — de mãos dadas independentes do contexto — é a questão do prazer enquanto conexão e fuga do mundo, em conjunto com pressupostos cotidianos de alívio, em maior ou menor grau; dentre algumas mais, estão: a droga como loucura e a loucura como a morte temporal dos problemas, a ideologia que promete a supressão do indivíduo ou a que o coloca segundo sua potencialidade rumo a elevação moral perante aos outros matando o “Eu” anterior na busca pelo reconhecimento dentro de uma ressignificação moral; em suma: a supressão de si em troca de um novo modelo de sociedade ou da fuga do presente real com base no vento exterior que eleva o indivíduo. Dito o que foi, de uma maneira mais geral e de salto: podemos dizer que toda ideologia política é uma forma de descolamento da realidade ou tentativa disso, visto que diferentes pontos se confrontam em relação ao contexto e ao panorama. Porém, abre-se aqui uma enorme ressalva a respeito do ecoamento preciso: os ideais de extrema-esquerda que buscavam a morte do indivíduo pelo espírito universal — em alta no século XX, bem como o paraíso religioso prometido depois desta.
No nascimento despido — depois. Antes, dentro do óvulo que se rompe mais tarde; mas antes, a estreita corrida dos espermatozoides à espera da vida e da morte, e assim segue o ciclo de divergentes maneiras. A intensidade, desde ao nível interno das células que morrem, à velocidade da dança e da montanha-russa — contém dentro e fora uma imersão que faz pulsar a vida mórbida que quer viver, e viver nesse sentido equivale a andar atado numa corda entre uma linda montanha e o gélido abismo negro. O limite é a queda, e o prazer é a sensação velada de possibilidade dessa queda — já o vento, que bate fortemente no corpo, é o prazer percorrido a cada passo na corda; já o orgasmo é o desequilíbrio em contraste com o olho que se assusta com a altura. No momento do êxtase verdadeiro, a percepção do tempo se perde, e nisso, nada mais justo que na sua representatividade do ato o olho exterior do cinema e das imagens (aqui no imaginário) perca também o tempo e observe em “câmera lenta” o sêmen que jorra e o olho que vira. Lágrimas que caem, o choro do prazer e seu abraço intrínseco com a dor, tanto exercida quando recebida em uma união que mata o indivíduo. A penetração é a entrada para um novo mundo, um espírito que se funde e foge do mundo atual. O sexo é o desejo de morrer do ser que matou deus.
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Gosto do jeito que você se despe dos costumes
O jeito que assume que o negócio é se arriscar
Eu tinha prometido não ceder à compulsão
Mas é uma agressão dizer pra um bicho não caçar
O bom é que depois, o final
É a pequena morte lenta de nós dois
(Trecho de "A pequena Morte" da cantora Pitty)
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Os Cascavelletes - Morte por Tesão (Letra)
Eu queria ser um vampiro, pra chupar o sangue da gata
Eu queria fazer vodu, pra conquistar tu
Eu queria ser um demônio e te derreter no meu inferno
Eu queria que ela morresse de tanta satisfação
Eu queria que ela morresse, morte por tesão
(Rt-R)
Eu queria ser um selvagem, pra ser o rei da sacanagem
Eu queria fazer vodu, pra conquistar tu
Eu queria ser um demônio e te derreter no meu inferno
Eu queria que ela morresse de tanta satisfação
Eu queria que ela morresse, morte por tesão
Refrão: 6x
(
Morte por tesão...
Solo:
(
Eu queria ser um demônio, pra chupar o sangue da gata
Eu queria fazer vodu, pra conquistar tu
Eu queria ser um demônio e te derreter no meu inferno
Eu queria que ela morresse de tanta satisfação
Eu queria que ela morresse, morte por tesão
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Sexo, violência, morte e Rock and Roll
Na união intensa em tempos de renovação e afronta, demonstradas simbolicamente de forma romântica em muitos filmes — temos o Rock and Roll, que permeou de diversas formas: da psicodelia sessentista aos grunhidos do heavy metal. No show, o encontro dos corpos, corpse-paints que portam simbolicamente a morte. No camarim ou no avião, partes que esporram, carnes que o desejo comporta, eclodem. Mundos que no começo do ato se abrem ao Lsd e ao álcool, e no fim (não precisa ser) da plateia os seios expostos. Na cama a carne vermelha exposta da futura groupie, ainda virgem — cujo sangue escorre pelas coxas entreabertas. Protestos lá fora de crenças comuns confrontam a orgia do lado; felizmente invisíveis dali. De tantos exemplos individuais que podem ser dados, temos Jim Morrison — que ao se colocar no parapeito do hotel, como descrito muitas vezes por outros que não ele mesmo, e ao abusar intensamente dos prazeres — entendia melhor que ninguém a proximidade entre os prazeres da carne e a morte, por assim dizer. Morrison é ainda capaz de nos lançar outra questão importante para Bataille indiretamente: a poesia. A valorização do estilo literário (já de gancho) e das formas de comunicação artísticas tem para o escritor uma importância maior que a própria filosofia; pois, a filosofia não se finca como uma forma de comunicação ou se estabelece dentro de um consenso prévio, já a poesia, por outro lado, permite adentrar o âmago de ser e sentir através da fala, da descrição e das palavras. A fluência e o fluido carregam com si a barra que quebra “janelas” e “portas” das trancas de acesso à condição máxima do sentir-se amado e amada — sutilmente. A dança, a música, a forma, os corpos, e o teatro se transportam conforme um diálogo estabelecido a sua maneira em atos que desencadeiam emoções (boas ou ruins). O ato, por exemplo, de dar e receber flores ao interesse amoroso é uma poesia implícita, o mesmo ocorre com a música quando vista de outro ângulo: as notas que saem representam a leitura daquele que toca para os que ouvem além de si mesmo. De uma maneira mais direta, poderíamos dizer que todas as expressões criativas citadas acima são intrínsecas aos sentimentos.
As corridas de carros setentistas e a excitação feminina em direção ao vencedor — trazem nos anos 50 o Rock and Roll como gênero musical da transgressão em tempos de ação intensiva e reação espumante, cuja cascas se aproveitaram os lobos, conforme cascas se tornavam os bobos, por assim dizer. A figura do selvagem e radical desperta o interesse por um certo encontro (ainda que distante) com a própria selvageria animal do macho que disputa a fêmea, não somente da moda como muitos acreditam e acreditavam; a força, o tamanho são questões que possuem um aspecto mais largo do que propriamente a contemplação visual. E ainda que no cinema a selvageria exacerbada nos filmes mais conhecidos sobre a época ou pertencente a ela, depreciam os loucos grosseiros que uivam como lobos e assaltam mercados (os vilões), há de se ressaltar que os mocinhos no enfrentamento dos mesmos representam a intensidade do inesperado, acabando por defender X e conquistar X; temos assim a diferença entre a força e à força (mais abaixo isso vai fazer sentido, espero que faça +_+). Nos anos 60, tempos que a política na música se tornou indispensável (não que antes não fosse) e as drogas se popularizaram cada mais com um verdadeiro ode ao uso que servia de escada à experiência transposta entre diversas músicas. Nos anos 70, com o movimento hippie ainda em alta e o movimento punk levantando no pulo, a dimensão da morte foi explicitada na juventude charmosa em meio à decadência; o já citado Morrison, Sid Vicious, Jimi Hendrix, Janis Joplin — são só algum dos nomes que desejaram intensamente a morte e a alcançaram na decada setentista. O anos 80 deram ainda mais espaço ao já existente Heavy Metal, que fez o seu impacto com o Thrash Metal e o Death Metal, e assim: as figuras diabólicas tomaram conta de camisetas, capas de álbuns, jaquetas e tatuagens.
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The Pretty Reckless - Make Me Wanna Die (Letra)
Me leve, estou viva
Nunca fui uma garota com a mente maligna
Mas tudo parece melhor
Quando o sol se põe
Eu tive tudo
Oportunidades para a eternidade
E eu poderia pertencer à noite
Seus olhos
Seus olhos
Eu posso ver nos seus olhos
Seus olhos
Você me faz querer morrer
Eu nunca vou ser boa o suficiente
Você me faz querer morrer
E tudo que você ama vai queimar na luz
E toda vez que eu olho dentro dos seus olhos
Você me faz querer morrer
Me prove, beba minha alma
Me mostre todas coisas que eu não deveria saber
Quando a lua azul está em ascensão
Eu tive tudo
Oportunidades para a eternidade
E eu poderia pertencer à noite
Seus olhos
Seus olhos
Eu posso ver nos seus olhos
Seus olhos
Tudo nos seus olhos
Seus olhos
Você me faz querer morrer
Eu nunca vou ser boa o suficiente
Você me faz querer morrer
E tudo que você ama vai queimar na luz
E toda vez que eu olho dentro dos seus olhos
Você me faz querer morrer
Eu morreria por você, meu amor
Eu mentiria por você, meu amor
(Você me faz querer morrer)
Eu roubaria por você, meu amor
(Você me faz querer morrer)
E eu morreria por você, meu amor
Vai queimar na luz
E toda vez que eu olho dentro dos seus olhos
(Vai queimar na luz)
Eu olho dentro dos seus olhos
(Vai queimar na luz)
Eu olho dentro dos seus olhos
Você me faz querer morrer
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O álbum acima foi de uma das bandas de Björk, que por vezes fez questão de referenciar Bataille, como é o caso de "The Eye" do K.U.K.L.
A história do olho
O livro, clássico da literatura erótica e referência para muitos pensadores célebres posteriores (Foucault, Guattari, Derrida, Lacan, etc) — narra através de um personagem sem nome as aventuras do mesmo, e de sua amiga libertina Simone, em conjunto e eventualmente com outros personagens como Marcela e o inglês milionário Sir Edmond, sob forte influência de Marquês de Sade e Friedrich Nietzsche. O olho sem rosto que dá título a obra, é uma espécie de fio condutor que alude a diversos conceitos e atos numa história não convencional no que tange sua explicação. Muito do livro, diríamos sua base criativa, veio tanto de experiências pessoais em suas relações com seus pais diretamente, quanto na posição de espectador. Retornando à figura do pai — cego e paralítico (um crossover desgraçado) e à certa fase da vida, insano e debilitado mentalmente —, o mesmo tinha que ser constantemente ajudado por Bataille, que a princípio não o odiava, pelo contrário, o amava, mas admitia no suporte presenciar uma visão deprimente do mesmo fazendo suas necessidades, e por vezes gemendo com o ato. Foi por aí que Bataille acabou por notar certa vez que o olho cego revirado entrava em êxtase, em especial quando urinava. A experiência em questão já dá uma boa sugestão dos entrelaçamentos posteriores presentes (a quem leu); aos distraídos: me refiro a relação do sujo e do limpo, do antigo e do novo, do prazer e da dor, da violência e da morte; e mesmo que esses conceitos não caiam definidos na obra literária aqui tratada, é notável a sua presença.
A obra de cunho poético trata do “primeiro olho” como ausência das figuras paternas na interceptação do ato libidinoso. No começo — Simone, de avental, senta em cima de um prato de leite colocado em um banquinho (o olho do gato), e observa a excitação do nosso interlocutor sem nome (os dois se conheceram em uma praia anteriormente). Posteriormente, após a experiência, Simone (angustiada com a solidão implicitamente) “propõe” um pacto de ambos não se masturbarem sem a presença do outro, e assim começa uma relação que percorre até o capítulo final. Dada a aliança dionisíaca, ambos ainda passam por experiências mais conturbadas e quentes; Marcela que presencia uma das cenas, se vê “devorada” pelo apetite de seus jovens amigos, e após um incidente orgiástico, o complemento dos dois se torna (ou válvula de escape; em sentido diferente em relação à Marcela) o inglês milionário Sir Edmond. Achou confuso? Bem, essa é certamente uma daquelas histórias que não podem ser resumidas sem deixar rastros explícitos que afetam (e muito) quem pretende ler. O que coloco aqui, em contrapartida (e sem ordem cronológica) a isso é a representação estética e surrealista que alude ao ânus, o óvulo, o ovo, e o olho. Expressa na talvez mais célebre parte do livro, em que o touro arranca o olho do toureiro e Simone se vê excitada com o seu olho palpitando, temos então uma dimensão entre a relação da violência com o prazer, e da proximidade com a morte com o momento do mesmo. No sexo, dentro do banheiro imundo, conhecemos a relação entre o sujo e o profano (metáfora às partes íntimas); o mundo que antes passava fezes e urina se abre pra uma nova forma de ser (como uma também forma de proximidade).
O músico Rogério Skylab cita Bataille como uma das suas influências
Simone e o personagem X, diferem de Marcela na questão da família. Enquanto a primeira citada não tem uma mãe firme e suborna os empregados da casa, e o segundo afronta os valores de seu pai militar — Marcela, que vem a história como pura, lida com a rigidez religiosa da família, ao ponto de ser internada depois do incidente orgiástico. Essa é mais precisamente a relação da afronta moral, da transgressão aos valores representados pela morte de deus e do embate entre o Dionísiaco e Apolíneo vide “O Nascimento da Tragédia”; tal afronta pode ser explicitada no que tange a visão do sexo convencional no seguinte fala de Simone após X ter tentado pegar a mesma à força: “Olhe, meu querido, assim não me interessa, na cama, como uma mãe de família!(…)”. Aqui se coloca a distância abissal entre a vontade e a submissão contratual, pois, para Bataille o erotismo é a aceitação da morte na vida, e não se finca em reprodução ou comprometimentos mórbidos típicos de relações estabelecidas e restritas: o sexo como propriedade, ou como uma posse que atua dentro da moral como uma espécie de verificação às condições do que se usa. Já Sir Edmond, o inglês milionário, é um personagem que com seu dote econômico torna a história mais envolvente no aspecto intensivo, e abre novas possibilidades de cenários; é aqui também que enxergamos a relação do sadismo e da submissão do sexo à nível econômico e das desigualdades contidas, bem como a perversão. Bataille em obras posteriores coloca essa questão da economia e das desigualdades, da prostituta de luxo e da necessitada — mais forte.
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Bjork - Venus as a Boy (Letra)
Seu malicioso senso de humor
Sugere sexo instigante
Seus dedos focam-se nela
E toca... ele é Vênus em forma de menino
Ele acredita na beleza
Ele é Vênus em forma de menino
Ele acredita na beleza
Ele é Vênus em forma de menino
Ele acredita na beleza
Ele é Vênus em forma de menino
Ele acredita na beleza
Ele é Vênus em forma de menino
Ele acredita na beleza
Ele explora o gosto dela
Estimulando, tão preciso
Ele ressaltou a beleza dela
Ele é Vênus, Vênus em forma de menino
Ele acredita na beleza
Ele é Vênus em forma de menino
Ele acredita na beleza
Ele acredita na beleza
Ele é Vênus em forma de menino
Ele acredita na beleza.
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A morte de deus
No século XVII, o agregado de escritos base do brunimento religioso começou a soar débil diante do homem intelectual. Antes, fruto dourado e referência magnânima do conhecimento apesar do sangue que escorria; agora uma debilitada e incômoda pedra presa aos pés da humanidade que desejava andar. A faca suja de sangue já se fincava em frente a cruz no criado-mudo bem antes das consequências do deus que estava morrendo, como já foi dito — mas a pedra que prendia o portador encurtava seu alcance sob o perdão e o medo da pena divina, como uma espécie de tapa na mão. De certa forma, a pena que “humanizava” o animal em jaulas com grades visíveis e invisíveis (depende da análise e do assunto específico); cujo aspecto notável na íris do homem aprisionado na presença do medo, de que, o peso subterrâneo esteja próximo e o fogo árduo do inferno sugestivo e, observe, inimaginável, seja seu destino — se faz importante. Quando os valores judaico-cristãos se desmantelam cada vez mais, para o delírio de Feuerbach e outros que confiaram no homem a certo ponto a ótica da busca do conhecimento e da transformação — novos paradigmas políticos surgiram em contraste com os antigos e os que ameçavam derrubar este último. A crença no deus; embora abutres de barba longa apontem, sem nenhum conteúdo decente que se sustente além de gritos ideológicos situados, mas sobretudo a porra de um charuto como estética performática — é antes uma crença na carne que mediante a esse divino não reproduzirá a doença humana (pecado), do que propriamente uma descrença na humanidade. A prova disso é o espetáculo maldito dos rios vermelhos de sangue que já banhavam a terra, bem antes do século XVII, mas com figuras diferentes penduradas.
As cruzes cravadas da guerra transmitem a ideia de que os carrascos humanos confrontaram os mandamentos divinos, quando, por outro lado, basta observar a querida e famosa terra santa e constatar que a religião é também um bom motivo para cravar milhares de cruzes em nome de deus. Não há necessidade, no entanto, de citar os nomes, o que há primordialmente é a ressalva que salienta e alerta aos problemas desse discurso da “morte de deus”, tendencialmente conservador na atualidade. Porém, tanto Bataille quando Nietzsche nesse sentido se colocam opostos a defesa da religião, pois, aqui a moral é contrária à concepção de natureza; ou seja, não estamos lidando com um abraço com o passado. E se deus está morrendo, é hora dos seres transgredirem mediante à proibição. Pois, observe, o erotismo é condicionado pela proibição em suas mais diversas formas: o ato sexual em si já se relaciona por si mesmo com a afronta à religião, é, pois, uma transgressão por ela mesma. Os dogmas que restringem os atos libidinosos possuem um valor simbólico que beira uma forma de erotismo próprio: o erotismo sagrado; há também os outros erotismos que citarei aqui brevemente sob o contraponto de acusação de negligência para o retorno a este, tais como o erotismo dos corações e o erotismo dos corpos (na ordem comum: corpos, corações, sagrado). O erotismo dos corpos é o encontro dos íntimos, a penetração, o ato; o do coração: o amor e o sentimento que o envolve; e o do sagrado: a dimensão mística. Ambos podem ser encontrados dispersos pelo blog implicitamente.
Não pensem que o belo abastece os olhos “cegos” de forma aberta, muito pelo contrário, o oposto da iconoclastia contrasta com as tendências e valores exercidos que dificilmente abrem brechas. Jesus, cuja cor verdadeira é veemente contestada por X exteriores à religião, aparece crucificado nos quartos, representado em uma pose para lá de erótica — é um exemplo. O belo tem exímia importância na idealização, afinal, o erotismo provém também da psique que deseja o eterno retorno, a circularidade da morte — mas que se confronta com o temporário (o real). Outro grande exemplo pode ser dado no campo das escolhas ou da disputa. Pegue como forma de elucidar a situação do desgraçado que na ausência do cérebro se torna uma peste repentina, de asquerosa forma que se indigna com o fato — uma verdadeira mosca-varejeira insuportável aos ouvidos de uma bela moça. Facas sedutoras o persegue nos casos mais extremos, como um auto-repelente; independente da vítima. Dó, dor alheia e desgraça. Como uma ave que escapa; já nos olhos da moça tudo muda, não é mais ignorância-de-si. O insistente, a ser o maldito pretendente, é uma desgraça pronta para a moça, a coitada clama para que o mesmo queira morrer se não souber distinguir a diferença que o sufoca, entre ela. O amado, o nome já diz tudo, é ao contrário da praga que assola e não morre, que de tanto insistir tornou a existir. Varejeira desgraçada que esganiça à sua forma, quem dera a ela, a moça, que essa praga no abraço com o “Faça” da mente e faca como porte finalmente, fizesse o almejado. Ambos serão defensores da vontade e da moral (juntas), até que o mais forte enjaule o outro sob a sua tutela e o trate na base do choque (metáfora); o imaginário permanece vencendo. Fim.
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Type O Negative - Christian Woman (Letra)
Perdoe-a
Pois ela não sabe
O que faz
Um crucifixo no alto da parede de seu quarto
Da graça ela cairá
Uma imagem queimando em sua mente
E entre suas coxas
Um moribundo homem de Deus cheio de dor
Quando você gozará novamente?
Perante ele, implore para o servir ou satisfazer
De costas ou de joelhos
Não há perdão para seus pecados
Ela prefere ser punida
Irá você sofrer eternamente?
Ou internamente?
Ah
Por sua luxúria
Ela queimará no inferno
Sua alma bem passada
Tudo através da estimulação manual massiva
Salvação
Corpus Christi
Ela precisa
Corpus Christi
Corpus Christi
Corpus Christi
Ela precisa
Corpus Christi
Corpus Christi
Corpo de Cristo
Ela precisa
Do corpo de Cristo
Corpo de Cristo
Ela gostaria de conhecer Deus
Amar Deus
Sentir o seu Deus
Dentro dela, bem fundo nela
Ah
Ela gostaria de conhecer Deus
Amar Deus
Sentir o seu Deus
Dentro dela, bem fundo nela
Dentro dela, profundamente dentro dela
Jesus Cristo parece comigo
Jesus Cristo
Jesus Cristo parece comigo
Jesus Cristo
Jesus Cristo parece comigo
Jesus Cristo
Ah
Jesus Cristo parece comigo
Jesus Cristo
Ah
Jesus Cristo parece comigo
Jesus Cristo, sim
Jesus Cristo parece comigo
Jesus Cristo, uh
Jesus Cristo parece comigo
Jesus Cristo, sim
Jesus Cristo parece comigo
Jesus Cristo, uh
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R e f e r ê n c i a s
BATAILLE, Georges. A História do Olho. Tradução de Eliane Robert Moraes. 1ª edição. São Paulo: Companhia Das Letras, 2018.
BATAILLE, Georges. O Erotismo. Tradução de Antônio Carlos Viana. (?). Porto Alegre: L&PM, 1987.